quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Show raro de Paralamas e Legião Urbana é registro histórico dos anos 80.


RIO - Em 1988, Cláudia Abreu ainda não tinha 18 anos, Bussunda acabara de estrear como um dos redatores do humorístico "TV Pirata" e Tony Ramos protagonizava a novela "Bebê a bordo", de Carlos Lombardi. E todos ouviam sem parar Os Paralamas do Sucesso e Legião Urbana. No auge da febre do rock Brasil, a Rede Globo promoveu um encontro até então inédito entre as bandas. Foi ao ar uma única vez, em 3 de setembro daquele ano. Relançado agora em DVD pela gravadora EMI, o registro histórico é também um viagem no tempo sem escalas, rumo aos anos 80. Basta reparar no "visual" dos convidados especiais do programa e nos elogios dirigidos por eles aos dois grupos.

Na época, Paralamas e Legião estavam entre os artistas mais populares do Brasil.
- É uma manifestação dessa época. Eu mesmo, que não tenho esse (suspiro) pique (risos), fui descobrindo nas letras e nas manifestações deles coisas ótimas - declara Tony Ramos, então com 40 anos.
Esse "pique" a que o ator se refere é um eufemismo para o furor com que a Legião de Renato Russo e os Paralamas de Herbert Vianna defendem suas músicas no show gravado no lendário Teatro Fênix. Batizado "Paralamas e Legião Juntos", o especial passa ao largo da memória mais infantilizada da década e abre espaço para os questionamentos de Renato e Herbert, então com 28 e 27 anos, respectivamente.
- Será que o casal é realmente a melhor forma de relacionamento? - provoca Herbert.
- A gente tenta não se envolver muito com a 'máquina' para não se perder - declara Renato.

A estrutura do programa, dirigido por Jodele Larcher e com direção geral de Roberto Talma, é simples. Alterna números musicais e depoimentos sobre os grupos do início ao fim. O deputado federal Fernando Gabeira surge, de cabelo armado e máquina fotográfica no pescoço, relacionando as letras da Legião ao cenário de abertura política. A ditadura militar havia terminado em 1985, mas os brasileiros só votariam para presidente no ano seguinte. Enquanto isso, Renato perguntava "que país é este?" enquanto listava as mazelas brasileiras, "nas favelas, no Senado".
Carlos Lombardi, que fazia sucesso com a trama cômica de "Bebê a bordo", classifica as bandas como "modernas e interessantes, a cara do Brasil de hoje, urbano". Na plateia, as atrizes Claudia Abreu, Malu Mader e Silvia Buarque eram filmadas fazendo passinhos de new wave. Os cabelos, as estampas, as ombreiras e até os óculos dos espectadores denunciam claramente a que época eles pertencem.
No palco, os grupos improvisaram um duelo de hits: Legião acelerada e suja com "Será", os Paralamas precisos e pesados com "O beco". Em 1988, os Paralamas tinham lançado seu quinto disco, "Bora Bora", em que davam continuidade aos experimentos com ritmos brasileiros iniciados em "Selvagem?", de 1986. E a Legião, com três discos no currículo, consolidava-se em torno da figura mítica de Renato Russo - em junho daquele ano, uma desastrada apresentação da banda em Brasília terminou com tumulto e 200 feridos. Bussunda não perdeu a chance de fazer piada:
- Gostaria muito de ter ido ao show da Legião Urbana em Brasília. Rock'n'roll é isso: é garra, é força, é luta! - debochou.
Juntos, mesmo, só uma interpretação de "Nada por mim" e o encerramento com "Ainda é cedo", com direito a "Jumpin' Jack Flash", dos Rolling Stones, como música incidental. Nos extras, há um festival de playbacks das bandas no programa "Globo de Ouro" (o baterista João Barone dublando a si mesmo em "Melô do marinheiro" está impagável) e um clipe raro de "Que país é este" gravado pela Legião para o "Fantástico". Além do DVD, o pacote vem com um CD bônus, com o áudio das 13 músicas do show.

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