Angenor de Oliveira nasceu em
1908 na
cidade do Rio de Janeiro. Foi o primeiro dos oito filhos que seus pais tiveram juntos. Era o
primogênito dos oito filhos do casal Sebastião Joaquim de Oliveira e Aída Gomes de Oliveira. Apesar de ter recebido o nome de Agenor, foi registrado como Angenor - fato que só viria a descobrir muitos anos mais tarde, ao tratar dos papéis para seu casamento com Dona Zica na
década de 1960. Para não ter que providenciar a mudança do nome em cartório, a partir de então passou a assinar oficialmente seu nome como Angenor de Oliveira.
[3]Nascido no bairro
carioca do
Catete, onde também passou parte de sua
infância. Quando tinha oito anos, sua família se mudou para as
Laranjeiras, onde ele se tornou torcedor do time do bairro, o
Fluminense.
[4] Lá nas Laranjeiras, entrou em contato com os
ranchos carnavalescos União da Aliança e Arrepiados - neste último tocava
cavaquinho (
instrumento musical que lhe tinha sido dado pelo pai quando tinha somente 8 ou 9 anos de idade) e nos desfiles do
Dia de Reis, em que suas irmãs saíam em grupos de "pastorinhas".
[5] Era tão entusiasmado pelo Arrepiados que ao participar, mais tarde, da fundação da
escola de samba Estação Primeira de Mangueira, sugeriu que as cores daquele rancho - o
verde e o
rosa - fossem as mesmas da nascente agremiação, que seria um símbolo dos mais reverenciados no mundo do
samba. Na verdade,
Carlos Cachaça disse que tinha existido no
Morro da Mangueira um antigo rancho chamado Caçadores da Floresta, cujas cores eram exatamente o verde e o rosa.
[3]Em
1919, movidos por dificuldades financeiras, os Oliveira foram para o
morro da Mangueira, então uma pequena e nascente
favela com menos de cinquenta barracos.
[4] Logo, conheceria e se tornaria amigo de outro morador da Mangueira,
Carlos Cachaça, seis anos mais velho que Cartola, e que se tornaria, além de amigo por toda a vida, o seu parceiro mais constante em dezenas de sambas.
[3]Quando tinha 15 anos, abandonou os estudos (tinha concluído apenas quarto ano
primário) para trabalhar, ao mesmo tempo em que se inclinava para a vida boêmia. Na adolescência, trabalhou como aprendiz de
tipógrafo, mas logo se transformou em
pedreiro. Foi enquanto trabalhava nas obras de construção, que ele ganharia o apelido com que se tornaria reconhecido como um dos grandes nomes da
música popular brasileira.
[5] Para que o
cimento não lhe caísse sobre os
cabelos, resolveu passar a usar um
chapéu-coco, que os colegas diziam parecer mais uma
cartolinha, e assim, começou a ser chamado de "Cartola".
[3][4]Tinha 17 anos quando sua mãe morreu. Pouco depois, após conflitos crescentes com o pai, inimigo da
malandragem, acabou expulso de casa. Levou então por algum tempo uma vida de vadio, bebendo e namorando, frequentando zonas de
prostituição e contraindo
doenças venéreas, perambulando pelas noites e dormindo em
trens de subúrbio. Esses hábitos o levaram a se enfraquecer fisicamente, adoecido e mal-alimentado, na cama de um pequeno barraco.
[4] Uma vizinha do seu barraco chamada Deolinda – uma mulher gorda, forte e boa, sete anos mais velha, casada e com uma filha de dois anos – passou a cuidar e a gostar dele. Os dois acabam se envolvendo. Tinha na época apenas 18 anos e estava morando sozinho. Decidem viver juntos e Deolinda deixa o marido, levando a filha que o compositor irá criar como sua.
[3][
editar] O surgimento do sambista
O barraco dividido por Cartola e Deolinda era habitado por mais gente, todos sustentados pela dona de casa, que lavava e cozinhava para fora. Sob seu teto e de Deolinda,
Noel Rosa foi se abrigar algumas vezes, à procura de um refúgio tranqüilo.
[6] Cartola exercia a atividade de
pedreiro apenas esporadicamente, preferindo assumir o ofício de
compositor e
violonista nos bares e tendas locais. À época, já se firmava como um dos maiores criadores do morro, ao lado do grande amigo
Carlos Cachaça e
Gradim.
[4]Com estes e outros compositores, Cartola integrava uma turma de brigões e arruaceiros que, não por acaso, formaram o
Bloco dos Arengueiros, em
1925, para brincar o
carnaval. Esse bloco seria o embrião da
Estação Primeira de Mangueira.
[4] A ampliação e fusão do bloco com outros existentes no morro, gerou, em
28 de abril de
1928, a segunda
escola de samba carioca e uma das mais tradicionais da história do
carnaval da cidade.
[7] Cartola, um dos seus sete fundadores (também assumiu a função de diretor de harmonia da escola, em que permaneceu até fins da
década de 1930), teria escolhido as cores e o nome da Mangueira:
verde e
rosa, por causa do
rancho carnavalesco em que ele desfilou na sua infância; Estação Primeira, porque, contando a partir da
Central do Brasil, o morro de Mangueira ficava a primeira estação de trem de um lugar em que havia samba.
[4] Cartola compôs "Chega de Demanda", o primeiro samba escolhido para o
desfile e que só seria gravado pelo compositor em
1974, para o disco "História das Escolas de Samba: Mangueira".
[5]No início da
década de 1930, Cartola se tornou conhecido fora da Mangueira, quando foi procurado por
Mário Reis, através de um estafeta chamado Clóvis Miguelão que subira o morro para comprar uma música.
[7] O sambista vendeu os direitos de gravação do samba "Que Infeliz Sorte", que acabou sendo lançado por
Francisco Alves, pois não se adaptava à voz de Mário Reis. Assinava então Agenor de Oliveira. Vendeu outros sambas a Francisco Alves, maior ídolo da música brasileira na época, cedendo apenas os direitos sobre a vendagem de discos. Neste comércio – que serviu para projetá-lo entre os
sambistas na cidade –, Cartola conservava a
autoria e não dava parceria a ninguém.
[4]“
O rapaz foi lá e disse: "Cartola, vem cá. O Mário Reis tá aí, queria comprar um samba teu". "O quê? Comprar samba? Você tá maluco, rapaz? (...) Eu não vou vender coisa nenhuma." (...) Ele disse: "Quanto é que você quer pelo samba?". Eu virei pro cara, no cantinho, disse assim: "Vou pedir 50 mil réis". "O quê, rapaz? Pede 500." (...) Com muito medo, pedi 500 contos. "Não, dou 300. Tá bom?" Eu disse assim: "Bom, me dá esses 300 mesmo". Mas com muito medo (...) Mas botou meu nome direitinho, legal (...). Ele comprou, mas não deu para a voz dele. Então gravou Chico, Francisco Alves.
”
— Cartola, sobre o samba "Que Infeliz Sorte",
Almanaque da FolhaEm
1932,
Francisco Alves e
Mário Reis gravaram outro samba seu, "Perdão, Meu Bem". Também remonta àquela época a amizade e a parceria que Cartola estabeleceu com
Noel Rosa. Com o "poeta de Vila Isabel", compôs "Tenho Um Novo Amor", interpretada por
Carmen Miranda, "Não Faz, Amor" e "Qual Foi o Mal Que Eu Te Fiz", interpretadas por
Francisco Alves. Ainda naquele ano,
Sílvio Caldas lançou "Na Floresta" (de autoria de Cartola, do próprio Sílvio e ainda a primeira composição em parceria com
Carlos Cachaça).
[4] Também em
1932, a Mangueira foi campeã do desfile promovido pelo jornal "O Mundo Esportivo" com o samba "Pudesse Meu Ideal" (sua primeira parceria com
Carlos Cachaça).
[7][5]Em
1933, Cartola viu pela primeira vez um samba seu se tornar sucesso comercial: "Divina Dama", novamente na voz de Francisco Alves.
Arnaldo Amaral gravou "Fita Meus Olhos" (com B. Vasquez), canção que encerrava o breve ciclo inicial de gravações de composições suas. A partir dali, o sambista passou a compor exclusivamente para a sua escola no morro,marginalizando-se do círculo artístico e de produção discográfica da cidade.
[4]Em
1935, novamente a Mangueira teve premiado no desfile um samba de Cartola, "Não Quero Mais" (feito com
Carlos Cachaça e
Zé da Zilda), que foi gravado, em
1936, por
Araci de Almeida e regravado, em
1973, por
Paulinho da Viola, com o título alterado para "Não Quero Mais Amar A Ninguém".
[7][5]Em
1940, Cartola foi convidado pelo
maestro e compositor erudito
Heitor Villa-Lobos, seu admirador, a formar um grupo de sambistas - entre eles,
Donga,
Pixinguinha,
João da Baiana - para fazer algumas gravações de
música popular brasileira para outro maestro mundialmente famoso, o
norte-americano Leopold Stokowski (que percorria a
América Latina recolhendo músicas nativas), realizadas a bordo do navio Uruguai (ancorado no
pier da
Praça Mauá, no Rio de Janeiro).
[5] Dos sambas que Cartola gravou a bordo do navio, "Quem Me Vê Sorrindo" (composto com
Carlos Cachaça) saiu em um dos quatro discos de 78 rpm, lançados comercialmente apenas nos
Estados Unidos pela gravadora
Columbia.
[4] Além da sua primeira gravação, foi registrado nesse álbum o coro da
Mangueira com as vozes de Dona Neuma e de suas irmãs, a clarineta de Luís Americano, emboladas de Jararaca e Ratinho, a flauta de Pixinguinha, além das participações de Donga e João da Baiana e um arranjo de Villa-Lobos para o tema indígena Canidé Joune.
[7]Popular, Cartola também atuou como
cantor na
rádio, apresentando músicas suas e de outros
compositores. Ainda em
1940 criou com
Paulo da Portela, o programa A Voz do Morro, na Rádio Cruzeiro do Sul, no qual apresentavam sambas inéditos, cujos títulos deviam ser dados pelos ouvintes. Assim, o programa premiava o ouvinte que tivesse sugerido o título escolhido para o samba. Em
1941, formou, junto com
Paulo da Portela e
Heitor dos Prazeres, o Conjunto Carioca, que durante um mês realizou apresentações em um programa da Rádio Cosmos, da
cidade de São Paulo.
[5] Em
1942, "Não Posso Viver Sem Ela" (parceria com
Alcebíades Barcellos) foi lançada no famoso disco "Ai Que Saudades da Amélia", de
Ataulfo Alves.
[4][7]“
Gosto de fazer samba de dor de cotovelo, falando de mulher, de amor, de Deus, porque é isso que acho importante e acaba se tornando uma coisa importante
”
— Cartola, comentando sua obra,
Almanaque da Folha[
editar] Tempos difíceis
Nos anos seguintes, Cartola participou pouco no cenário musical. Entre suas poucas atuações artísticas, o sambista apareceu como corista da gravação de alguns cantores na Colúmbia e chegou a se apresentar com um grupo de morro no Cassino Atlântico.
[4]Com a nova direção da
Estação Primeira de Mangueira antipática a Cartola, o sambista viu seu samba ser desqualificado pelo júri que julgou as músicas concorrentes ao enredo que representaria a
escola de samba no
carnaval de
1947. Para piorar, ele contraiu
meningite, ficando três dias em
estado de coma e um ano andando de
muleta. Com vergonha da condição de doente, acabou se mudando para
Nilópolis. Foi cuidado por Deolinda, mas pouco depois assistiu à morte da mulher, vitimada por um
ataque cardíaco.
[4] Com a morte de Deolinda, deixou o
Morro da Mangueira.
Por um período de cerca de sete anos, andou desaparecido dos seus conhecidos. Fora do ambiente musical, muitos pensavam até que tivesse morrido. Chegou-se a compor sambas em sua homenagem. Em
1948, a Mangueira sagrou-se campeã do
carnaval do Rio de Janeiro com seu
samba-enredo "Vale do São Francisco" (com
Carlos Cachaça).
[5]Cartola vivia um período difícil em sua vida. Sem mais a atenção de Deolinda e o prestígio no morro da Mangueira, o sambista morava em uma
favela no
bairro do Caju, com uma mulher chamada Donária. Data dessa época a composição "Fiz Por Você o Que Pude", dedicada a Mangueira.
[4]Cartola conseguiu trabalhos modestos, como o de lavador de carros e vigia de
edifícios. Mas a entrada em cena de uma nova - e definitiva - mulher em sua vida alterou o seu destino. Quando Eusébia Silva do Nascimento, mais conhecida como Zica, o encontrou, o sambista estava em um estado lastimável, entregue à bebida, desdentado e sobrevivendo de biscates - sem contar ainda um problema no
nariz, que tinha se tornado demasiadamente grande. Apesar disso, Zica, antiga admiradora de Cartola, se apaixonou por ele, conquistando-o.
[4] Zica o levou de volta ao
morro da Mangueira, onde o casal se instalou em uma casa na subida do morro,perto da quadra da escola de samba e próximo da casa de
Carlos Cachaça e Menina (irmã de Zica). Com Zica, Cartola viveria até o fim de seus dias, sem, no entanto, deixar filhos.
[4]Mesmo sumido, Cartola ainda foi lembrado em
1952, quando
Gilberto Alves gravou o
samba-canção "Sim" (parceria com
Oswaldo Martins).
[7][
editar] Os bons tempos do Zicartola
Em
1957, Cartola trabalhava como
vigia e lavador dos carros dos moradores de um edifício em
Ipanema. Nessa função, foi identificado em uma madrugada pelo
jornalista Sérgio Porto (ou
Stanislaw Ponte Preta), sobrinho do crítico musical
Lúcio Rangel (que havia dado ao sambista, anos antes, o apelido de "Divino Cartola"). Ao ver o compositor magro e maltrapilho em um macacão molhado, Stanislau decidiu ajudá-lo, começando por divulgar a redescoberta, que fizera, do sambista.
[4] Àquela altura, Cartola era dado como desaparecido ou mesmo morto por muitos de seus conhecidos e admiradores. O reencontro com o jornalista foi definitivo para a retomada de sua carreira como músico e compositor.
[3]A promoção rendeu algumas apresentações na Rádio Mayrink Veiga e em restaurantes, além de matérias em jornais e revistas. Sérgio também conseguiu, por meio do
cronista e
pesquisador Jota Efegê, arranjou para o sambista um emprego de
contínuo no
jornal Diário Carioca em
1958[5] e,
no ano seguinte, no Ministério da Indústria e Comércio.
[4] Em
1958, foram gravados seus sambas "Grande Deus" e "Festa da Penha", respectivamente por
Jamelão e
Ari Cordovil. Em
1960,
Nuno Veloso gravou "Vale do São Francisco" (parceria com
Carlos Cachaça).
[7]No início da
década de 1960, Cartola se tornou zelador da Associação das Escolas de Samba, localizada em um velho casarão no
centro do Rio de Janeiro, que se tornou um ponto de encontro de
sambistas de toda a cidade. Além das rodas de samba no local, Zica - uma exímia cozinheira - passou a servir uma sopa aos participantes. Estimulado por amigos, Cartola e Zica resolveram aplicar a fórmula música-comida em um sobrado da rua da Carioca, também na zona central da cidade, em
1963.
[4] A iniciativa contou com o apoio financeiro de empreendedores considerados "mangueirenses de coração", como o empresário Renato Augustini.
[3]O
Zicartola se tornou um marco na história da
música popular brasileira no início das
década de 1960. Além da boa cozinha administrada por Zica, Cartola fazia as vezes de mestre de cerimônias, propiciando o encontro entre sambistas do morro e compositores e músicos de classe média, especialmente ligados à
Bossa Nova, além de
poetas-letristas como
Hermínio Bello de Carvalho e
jornalistas musicais como
Sérgio Cabral. Velhos bambas, como
Nelson Cavaquinho e
Zé Kéti, se juntavam a novos talentos, como
Élton Medeiros e
Paulinho da Viola.
[4] Além da presença constante de alguns dos melhores representantes do samba de morro, diferentes gerações de cantoras se encontravam ali, como
Elizeth Cardoso e
Nara Leão.
No Zicartola, desafiado pelo amigo Renato Agostini, Cartola compôs com
Elton Medeiros em cerca de 30 minutos o samba "
O Sol Nascerá", que se tornaria um de seus grandes clássicos. A mesma facilidade para compor experimentaria em "
Alvorada" um samba feito a seis mãos. Compusera com
Carlos Cachaça a primeira parte de um samba que decidiram mostrar a
Hermínio Bello de Carvalho, que escreveu então os versos da segunda parte, que ele musicou na hora.
[7]Moda no Rio de Janeiro, o Zicartola inaugurou um gênero de casa noturna que viria a se propagar nas décadas seguintes. Apesar disso, o bar durou pouco e, mal-administrado, fechou as portas após dois anos de existência, pois seu dono definitivamente não tinha tino comercial.
[4] Em
1974, um bar chamado Zicartola foi aberto no bairro
paulistano de
Vila Formosa.
[3]Ainda em
1964, Cartola e Zica se casaram oficialmente (às vésperas do casamento, ele compôs "Nós Dois" para ela), e o sambista atuou no filme "
Ganga Zumba" (de
Carlos Diegues), no papel de um
escravo (já havia atuado discretamente em "
Orfeu Negro" e ainda participaria de "
Os Marginais").
[4] O samba "O Sol Nascerá" foi gravado por
Isaura Garcia.
[7]Em
1965, foi lançado o álbum com gravações do
Show Opinião, no ano anterior, realizado entre
Zé Keti,
João do Vale e
Nara Leão - esta incluíu "
O Sol Nascerá" (de Cartola e
Elton Medeiros) no repertório do LP.
[3] Esta gravação tornou Cartola, assim como outros sambistas de seu círculo, conhecidos pelo público de classe média da época, projetando-os profissionalmente. Em consequência do prestígio que ganhou, Cartola chegou a ter seu nariz retocado pelo célebre cirurgião plástico
Ivo Pitanguy.
[4] Pery Ribeiro e Bossa Três também regravam "O Sol Nascerá".
[7]Ainda em
1965, Cartola iniciou a construção de uma casa (verde e rosa) ao pé do
morro da Mangueira, em terreno doado pelo então
Estado da Guanabara.
[5] Naquele mesmo ano e no
seguinte, fez participação em dois discos de
Elizeth Cardoso, que gravou o samba "Sim" (parceria com
Oswaldo Martins e Leny Andrade).
[7] Ainda em
1966, gravou com
Clementina de Jesus seu samba "Fiz por você o que pude".
[7]Em
1968, participou em duas faixas do LP "Fala, Mangueira", que reuniu, além dele,
Nelson Cavaquinho,
Carlos Cachaça,
Clementina de Jesus e
Odete Amaral. Também naquele ano, Cartola gravou com
Odete Amaral "Tempos Idos" (parceria com
Carlos Cachaça) e
Ciro Monteiro gravou "Tive Sim".
[4][7][
editar] A glória na velhice
Em
1970, Cartola protagonizou uma série de apresentações promovidas pela
União Nacional dos Estudantes, intituladas "Cartola Convida", na
praia do Flamengo, onde recebia grandes nomes do
samba. Também naquele ano, a Abril Cultural lançou um volume dedicado à sua obra na série "História da música popular brasileira", no qual o sambista interpretou "Preconceito" (de sua autoria). Em
1972,
Paulinho da Viola gravou "Acontece" e
Clara Nunes gravou "Alvorada" (com
Carlos Cachaça e
Hermínio Bello de Carvalho). Em
1973,
Elza Soares gravou "Festa da Vinda" (parceria com
Nuno Veloso).
[7]Mas a consagração definitiva viria somente em
1974, alguns meses antes de completar 66 anos, quando o sambista finalmente gravou seu primeiro disco-solo.
Cartola, lançado em uma iniciativa do pesquisador musical, produtor de discos e publicitário
Marcus Pereira. O disco, que recebeu vários prêmios e foi considerado um dos melhores daquele ano,
[1] reunia uma coleção de obras-primas de Cartola e uma equipe de instrumentistas de primeira linha no acompanhamento. O sambista interpretou "Acontece", "Tive Sim", "Amor Proibido" e "Amor Proibido" (canções de autoria própria), "Disfarça E Chora" e "Corra E Olhe O Céu" (parceria com
Dalmo Casteli), "Sim" (com
Oswaldo Martins), "O Sol Nascerá" (com
Élton de Medeiros), "Alvorada" (com
Carlos Cachaça e
Hermínio Bello de Carvalho), "Festa Da Vinda" (com
Nuno Veloso), "Quem Me Vê Sorrindo" (com
Carlos Cachaça) e "Ordenes E Farei" (com Aluizio).
[4]Também em
1974, a mesma gravadora Marcus Pereira lançou o LP "História das escolas de samba: Mangueira", no qual Cartola interpretou algumas faixas. Pouco depois, durante uma entrevista ao
radialista e produtor
Luiz Carlos Saroldi, em um programa especial para a
Rádio Jornal do Brasil, apresentou dois sambas ainda inéditos: "
As Rosas Não Falam" e "
O Mundo é um Moinho". Ainda naquele ano, o sambista participou do programa radiofônico "MPB - 100 ao vivo" - os programas foram editados em oito LPs com o mesmo título e em um dos álbuns ocupou todo um lado, deferência só concedida a dois outros convidados,
Luiz Gonzaga e
Paulinho da Viola - e se apresentou no bairro carioca de
Botafogo, em que atuou ao lado da
cantora Rosana Tapajós e do
flautista Altamiro Carrilho.
[7] Gal Costa regravou "Acontece".
Logo depois, em
1976, a mesma gravadora lançou o segundo LP, também intitulado
Cartola. O sucesso do álbum foi puxado por uma de suas mais famosas criações, "
As Rosas Não Falam", incluída na trilha sonora de uma
novela da
Rede Globo. Ainda em seu segundo disco, Cartola interpretou suas composições "Minha", "Sala de Recepção", "Aconteceu", "Sei Chorar", "
Cordas de Aço" e "Ensaboa". Gravou também as canções "Preciso me encontrar" (de
Candeia), "Senhora tentação" (de
Silas de Oliveira) e "Pranto de Poeta" (de
Nelson Cavaquinho e
Guilherme de Brito. Também nesse ano,
Clementina de Jesus gravou "Garças Pardas" (parceria com
Zé da Zilda).
[7]A grande popularidade obtida pelo samba levou Cartola a uma divulgação inédita de seu trabalho. Realizou seu primeiro show individual, no Teatro da Galeria, no bairro do
Catete, acompanhado pelo Conjunto Galo Preto. O show foi um sucesso de público e se estendeu por quatro meses em várias partes do país.
[5]Em
1977, o sambista dividiu com um novo parceiro,
Roberto Nascimento, uma turnê por palcos do
Sesc, no
interior de São Paulo.
[8] Em meio ao grande sucesso, Cartola voltou a desfilar pela
Mangueira, após 28 anos de ausência no
desfile de carnaval. O seu samba "Tive, Sim" foi defendido por
Ciro Monteiro na I Bienal do Samba, promovida pela
TV Record, e terminou classificado em quinto lugar no concurso.
[4] Também foi convidado pela Prefeitura de
Curitiba para integrar o juri do desfile das escolas de samba locais, onde, pela primeira e única vez julgou um desfile das escolas.
Beth Carvalho gravou com sucesso "O mundo é um moinho". Em junho de
1977, a
Rede Globo apresentou o programa "Brasil Especial" número 19, dedicado exclusivamente a Cartola, e que obteve grande êxito. Em setembro daquele mesmo ano, o sambista participou (acompanhado por
João Nogueira) do "Projeto Pixinguinha", no
Rio de Janeiro,e depois em uma excursão pelas principais cidades brasileiras. O sucesso do espetáculo os levou a excursionar por
São Paulo,
Curitiba e
Porto Alegre.
[5][7]Ainda em
1977, em outubro, a gravadora
RCA lançou "
Verde que te quero rosa", seu terceiro disco-solo, com igual sucesso de crítica. Um dos grandes destaques do álbum foi "Autonomia", com arranjo do maestro Radamés Gnatalli.
[4] Desse LP fazem parte o
samba-canção "Autonomia", além de "Nós Dois" (composta especialmente para o casamento com Zica, em
1964). Recriou "Escurinha" (samba do mangueirense
Geraldo Pereira, falecido prematuramente em conseqüência de uma briga com "
Madame Satã"). Estão presentes ainda os sambas "Desfigurado", "Grande Deus", "Que é feito de você" e "Desta vez eu vou" (todos de sua autoria), "Fita meus olhos" (com
Osvaldo Vasques) e "A canção que chegou" (com
Nuno Veloso.
[7][
editar] Últimas homenagens
Em
1978, quase aos 70 anos, se transferiu da Mangueira para uma casa em
Jacarepaguá, buscando um pouco mais de tranqüilidade, na tentativa de continuar compondo, mas sempre voltava para visitar os amigos no morro onde crescera e se tornara famoso.
[5] A residência de Cartola e Zica em Mangueira era muito frequentada por músicos e jornalistas, o que levou o casal a procurar um pouco de sossego. Era finalmente a primeira casa própria do artista, o máximo que ele conseguiu com o sucesso obtido no final da vida. Em frente à sua porta, foi inaugurada em seguida uma praça apropriadamente batizada de As Rosas Não Falam.
[4]Naquele mesmo ano, estreou seu segundo show individual: "Acontece", outro sucesso. E em novembro, por ocasião de seu septuagésimo aniversário, recebeu uma grande homenagem na quadra da
Mangueira. O sambista, no entanto, já estava doente. Diagnosticado seu mal,
câncer na
tireóide, foi operado em
1978.
[4]Ainda naquele ano, o sambista gravou com
Eliana Pittman o samba "Meu amigo Cartola" (de
Roberto Nascimento) e, com
Odete Amaral o samba "Tempos Idos" (parceria com
Carlos Cachaça).
Valdir Azevedo,
João Maria de Abreu,
Joel Nascimento e
Fagner regravaram "As rosas não falam".
Elizeth Cardoso regravou "Acontece" e
Odete Amaral, "Alvorada". Durante a apresentação no Ópera Cabaré, em São Paulo, no mês de dezembro, o concerto foi gravado ao vivo, por iniciativa de J.C. Botezelli (responsável pelo primeiro disco de Cartola). Esse registro ao vivo só sairia em LP após a morte do compositor.
[7]Em
1979, foi lançado
Cartola – 70 anos, seu quarto LP no qual interpretou seus sambas "Feriado na roça", "Fim de estrada", "Enquanto Deus consentir", "Dê-me graças, senhora", "Evite meu amor", "Bem feito" e "Ao amanhecer", além de "O inverno do meu tempo" e "A cor da esperança" (parcerias com
Roberto Nascimento), "Ciência e arte" e "Silêncio de um cipreste" (com
Carlos Cachaça), "Senões" (com
Nuno Veloso) e "Mesma estória" (com
Élton Medeiros).
Ainda naquele ano,
Nelson Gonçalves e
Emílio Santiago regravaram "As rosas não falam". Em fins de
1979, Cartola participou de um programa na
Rádio Eldorado, da
cidade de São Paulo, no qual contou um pouco de sua vida e cantou músicas que andava fazendo. Essa entrevista foi posteriormente lançada em LP, na
década de 1980, com o nome "Cartola - Documento Inédito".
[7] Em
1980, a cantora
Beth Carvalho regravou "As rosas não falam" e "Consideração" (parceria com
Heitor dos Prazeres. Com
Nelson Cavaquinho, compôs apenas "Devia ser condenada", gravada pelo parceiro na
década de 1980.
A carreira de Cartola não iria longe. Cartola sabia que sua doença era grave mas manteve segredo sobre ela todo o tempo. Para todos dizia que tinha uma
úlcera.
[1]“
Quando for enterrado, quero que Waldemiro toque o bumbo.
”
— Cartola, manifestando a sua família um desejo uma semana antes de sua morte,
Almanaque da FolhaTrês dias antes de morrer, recebeu de
Carlos Drummond de Andrade sua última homenagem em vida.
[4] O
poeta lhe dedicou uma comovente
crônica, publicada pelo
Jornal do Brasil.
[9]Cartola morreria de
câncer em
30 de novembro de
1980, aos 72 anos de idade. Após o velório na quadra da Estação Primeira de Mangueira, o corpo de Cartola foi sepultado no
Cemitério do Caju. Atendendo a seu pedido, no dia 1º de dezembro, data de seu funeral, Waldemiro, ritmista da
Mangueira, que havia aprendido com ele a encourar seu instrumento, marcou o ritmo para o coro de "
As Rosas Não Falam", cantada por uma pequena multidão de sambistas, amigos, políticos e intelectuais, presentes em sua despedida. Em seu caixão a bandeira do time do seu coração, o
Fluminense.
[1][
editar] Após a morte
Durante os anos seguintes, viriam homenagens póstumas, discos e biografias que o confirmariam como um dos maiores nomes da música popular brasileira.
[3] Em
1981,
Artur Oliveira concluiria o samba "Vem", que Cartola deixara inacabado, e seu livro escrito juntamente com Marília Trindade Barboza, a biografia "Cartola, Os Tempos Idos" seria lançado pela
Funarte, em
1983. Ainda em
1982, foi lançado um disco póstumo do sambista, "Ao Vivo" – gravação de um espetáculo realizado no final de
1978, em
São Paulo. Em
1984, também pela Funarte, sairia o LP "Cartola, Entre Amigos".
Em
1988, para comemorar o octagésimo aniversário de seu nascimento, a gravadora
Som Livre lançou o songbook "Cartola – Bate Outra Vez...", que trazia
Caetano Veloso,
Gal Costa,
Paulinho da Viola,
Zeca Pagodinho,
Luiz Melodia,
Dona Ivone Lara,
Beth Carvalho,
Nelson Gonçalves,
Paulo Ricardo e
Cazuza. E a cantora
Leny Andrade apareceu com "Cartola – 80 Anos".
Marisa Monte viria a incluir em seu repertório o
lundu "Ensaboa", composto em
1975 e gravado pelo compositor em seu segundo LP.
[4][7]A cantora
Claudia Telles (filha de
Sylvia Telles, um dos ícones da
Bossa Nova) lançaria em
1995 um álbum-tributo composições de Cartola e
Nelson Cavaquinho. Em
1998,
Elton Medeiros e
Nelson Sargento gravaram o álbum "Só Cartola". Medeiros também se apresentou com a cantora
Márciano espetáculo "Cartola 90 anos", que resultaria em um álbum lançado pelo
SESC de São Paulo. Naquele mesmo ano, o grupo Arranco (ex-Arranco de Varsóvia) lançou o álbum "Samba de Cartola".
[7]Em
2001, a RCA relançou em CD o disco "
Verde que te quero rosa". Naquele mesmo ano, foi fundado o Centro Cultural Cartola tendo por base a obra do compositor. Em
2002, o cantor
Ney Matogrosso lançou o álbum "Cartola", com repertório todo dedicado ao compositor da Mangueira. Em
2003, a neta de Cartola descobriu uma pasta vários letras inéditas que teriam de ser musicadas. Ainda naquele ano,
Beth Carvalho lançou o álbum "Beth Carvalho canta Cartola". Em
2004, o espetáculo "Obrigado Cartola", de Sandra Louzada, com direção de Vicente Maiolino, estreou no
Centro Cultural Banco do Brasil. O musical contavao a vida do compositor e apresentando sambas clássicos. Naquele mesmo ano, foi lançado pela Editora Moderna o livro "Cartola", de
Monica Ramalho.
[7]Em
2007, foi lançado o
filme "
Cartola - Música para os Olhos", com direção de Lírio Ferreira e Hilton Lacerda.
Em
2008, esquecido no ano de seu centenário pela
Estação Primeira de Mangueira que ajudou a fundar, foi, no entanto homenageado pela
Unidos do Tuiutí com o enredo "Cartola, teu cenário é uma beleza" que ajudou a escola de
São Cristóvão a subir para o grupo de Acesso A. Dentro das comemorações pelo seu centenário, foi lançado pelo selo Biscoito Fino "Viva Cartola - 100 anos", que incluiu gravações lançadas em outros discos e que continha uma única faixa inédita, "Basta de Clamares Inocência" - gravada por Martinália. "Pranto de Poeta" – BMG
[7][
editar] Obras
[
editar] Discografia
[
editar] Oficiais
1974 - "
Cartola"
1976 - "
Cartola"
1977 - "
Verde Que Te Quero Rosa"
1978 - "
Cartola 70 Anos"
1982 - "
Cartola - Ao Vivo"
1982 - "
Cartola - Documento Inédito"
[
editar] Participações
1942 - "Native Brazilian Music" -
Leopold Stokowski1967 - "A Enluarada Elizeth" -
Elizeth Cardoso (participação em "Seleção de Sambas da Mangueira")
1968 - "Fala Mangueira!" -
Odete Amaral, Cartola,
Clementina de Jesus,
Nelson Cavaquinho,
Carlos Cachaça1970 - "História da música popular brasileira" - Cartola e
Nelson Cavaquinho1974 - "História das escolas de samba: Mangueira" - Vários Artistas
1975 - "MPB - 100 ao vivo" - Vários artistas
1980 - "E Vamos À Luta" -
Alcione (participa da faixa "Eu Sei", de sua autoria)
1993 - "No Tom da Mangueira" -
Tom Jobim e
Velha Guarda da Mangueira (incluída sua gravação de "Não quero mais amar a ninguém")
[
editar] Não-oficiais
1977 - "Cartola" - este disco faz parte da coleção Nova História da Música Popular Brasileira vem acompanhado de fascículo, fotos, ilustração de Elifas Andreatoe as letras das músicas
1980 - "Adeus, mestre Cartola"
1982 - "Cartola - História da MPB"
1999 - "O Sol Nascerá"
2001 - "A música brasileira deste século por seus autores e intérpretes"
[
editar] Homenagens e Tributos
1984 - "Cartola, Entre Amigos" - Vários Artistas
1987 - "Cartola – 80 Anos" - Por
Leny Andrade1988 - "Cartola - Bate outra vez..." - Vários Artistas
1995 - "Claudia Telles Interpreta Nelson Cavaquinho e Cartola" - Por
Claudia Telles1998 - "Sambas de Cartola" - Grupo Arranco
1998 - "Só Cartola" - Por
Élton Medeiros e
Nelson Sargento1998 - "Cartola – 90 Anos" - Por
Élton Medeiros e
Márcia2002 - "Cartola" - Por
Ney Matogrosso2003 - "Beth Carvalho canta Cartola" - Por
Beth Carvalho2008 - "Viva Cartola! 100 Anos" - Vários Artistas
[
editar] DVDs
2007 -
MPB Especial 1974[
editar] Filmografia
1958 - "
Orfeu Negro" (participação especial)
1963 - "
Ganga Zumba"
1968 - "
Os Marginais" (participação especial)
2006 - "
Cartola - Música para os Olhos" (cine-biografia)
[
editar] Livros
Cartola: Os Tempos Idos, de Arthur L de Oliveira Filho & Marília Trindade Barbosa da Silva, Rio de Janeiro: Gryphus, 2003.
Cartola: semente de amor sei que sou, desde nascença. Arley Pereira; prefácio de Elton Medeiros. 2ª ed. rev. e ampl. - São Paulo:
Edições SESC SP, 2008.